Aqueles que gostam de gelados podem agradecer à evolução. Há apenas 10.000 anos atrás, ninguém no passado da infância conseguia digerir o açúcar do leite, chamado lactose. Os bebês sempre fizeram lactase, a enzima que quebra esse açúcar, mas após o desmame a produção de lactase pararia.
Então veio o gado. Nos últimos 10.000 anos, várias populações diferentes – todas criando gado ou camelos no Norte da Europa, Leste da África e Médio Oriente – ganharam a capacidade de digerir leite para toda a vida. Certas variantes genéticas se tornaram prevalentes e fizeram com que a produção de lactase continuasse até a idade adulta.
A tolerância à lactose ofereceu a essas populações uma vantagem crucial, diz o antropólogo Henry Harpending, co-autor de um livro recente chamado The 10,000-Year Explosion (A Explosão de 10.000 Anos): Como a Civilização Acelerou a Evolução Humana. Antes do surgimento das variantes gênicas, as pessoas tinham que remover o açúcar do leite de vaca ou camelo através da fermentação, mas que eliminava entre 20 a 50% de suas calorias. Com a capacidade de digerir leite, os humanos podiam acessar essa energia adicional.
Na Explosão de 10.000 Anos, Harpending e o co-autor Gregory Cochran, ambos da Universidade de Utah, argumentam que a capacidade de digerir a história humana em forma de lactose. As populações tolerantes à lactose, afirmam eles, poderiam sobreviver melhor à fome, e poderiam também ter sido melhores conquistadores, ajudando a disseminação de suas civilizações e culturas. “As expansões européias e talvez árabes que devastaram o Império Bizantino podem ter sido resultados desta nova capacidade de digerir alimentos”, disse Harpending em uma entrevista.
A capacidade de digerir a lactose também é uma evidência de que os humanos ainda estão evoluindo. Nesses 10.000 anos, ela surgiu independentemente em pelo menos quatro lugares ao redor do globo. Hoje, mais de 90% de todas as pessoas têm algum grau de tolerância à lactose. O grau de tolerância das pessoas depende de quais variantes gênicas e do número de cópias dos genes que elas possuem. Cerca de um terço da população digere a lactose imperfeitamente e experimenta alguns sintomas de intolerância à lactose, e algumas pessoas, a maioria de origem africana, asiática ou mediterrânea, não são capazes de digerir a lactose.
A selecção rápida para a tolerância à lactose levanta uma questão interessante. As pessoas que já tinham a variante genética eram motivadas a domesticar animais, ou as pessoas que domesticavam animais tinham maior probabilidade de se beneficiar de ter uma variante genética produtora de lactose? “O que veio primeiro, o gado ou a mutação, você não pode dizer”, diz Harpending. “Se a mutação não tivesse ocorrido, não haveria tanta alegria. Mas se as pessoas que pudessem digerir a lactose não tivessem gado, a mutação não teria tido vantagem.”
— Joseph Caputo