Perguntaste onde é que o Natal foi buscar o seu nome? Vem da combinação de duas palavras – “Missa de Cristo”, que foi um culto especial de celebração do nascimento de Jesus, que começou na Igreja Católica em meados do século IV. As missas são cultos onde se celebra a Ceia do Senhor (Eucaristia).
Origens etimológicas da palavra “Natal”
A palavra “Natal” deriva de um termo inglês antigo que data de 1038: “Cristes Maesse”. O termo literalmente significa “a massa de Cristo”, que é uma evidência das suas raízes católicas. “Missa” vem do latim missa, e refere-se ao serviço da Eucaristia, ou a Ceia do Senhor. Para o ouvido protestante, Missa é melhor entendida como um serviço diário de orações em que os cristãos participam da ceia do Senhor, e a “missa de Cristo” foi especialmente dedicada à celebração do nascimento de Cristo.
O Desenvolvimento do Calendário Litúrgico
Esta é a explicação simples da palavra Natal. No entanto o termo é também uma pista para o maior desenvolvimento da tradição e prática da igreja. Para começar, nem a celebração do nascimento de Cristo nem a palavra “missa” existiam na Igreja Primitiva. Não foi até 397 que a missa foi usada por Santo Ambrósio para descrever a peça central litúrgica já estabelecida da Ceia do Senhor. Antes disso, a Missa era comumente chamada Eucaristia.
De maior relevância para os nossos propósitos, porém, é a relativa ausência de qualquer celebração natalina durante os três primeiros séculos da existência da Igreja. Esta ausência deve-se ao fato de que os primeiros cristãos rejeitaram ativamente a celebração do nascimento de Cristo. Orígenes (ca. 185-254 ca.) se opôs com o fundamento de que somente figuras pagãs da Bíblia, como o Faraó, celebravam aniversários. Além disso, o Império Romano celebrou os aniversários de seus líderes, e foi durante uma dessas mesmas celebrações – o aniversário de Herodes – que João Batista foi decapitado.
Bem compreensivelmente, os cristãos desejavam distanciar-se da prática pagã de observar os aniversários. Cristo não devia ser confundido com líderes mundanos, por isso a igreja colocou sua maior ênfase litúrgica na Páscoa e no Pentecostes. Estes dois eventos significativos foram honrados com “festas eclesiásticas”, que “não só comemoram um evento ou pessoa, mas também servem para excitar a vida espiritual, lembrando-nos do evento que ela comemora”
Páscoa e Pentecostes continuaram a ser as principais ocasiões para as festas eclesiásticas até meados do século IV, quando o Natal e a Epifania foram acrescentados. O dia vinte e cinco de dezembro foi estabelecido como a festa da Natividade, e a missa oficial da Natividade foi a primeira missa desse dia, celebrada às nove horas da manhã.
A “Missa de Cristo” cresce em significância litúrgica
ÀÀ semelhança das igrejas ocidentais que observavam o Natal no dia vinte e cinco de dezembro, a Igreja de Jerusalém tinha estabelecido uma tradição de celebrar o Natal no dia seis de janeiro. Sua celebração incluía um culto especial de Missa na noite de 6 de janeiro, e foi realizada em uma igreja construída acima da caverna em Belém onde se acreditava que Jesus havia nascido.
Quando um número crescente de peregrinos ocidentais visitou a Terra Santa e soube desta tradição, eles escolheram adotar a prática por si mesmos. Assim, em meados do século XV, a Igreja Romana estabeleceu uma Missa da Meia-Noite na igreja de Santa Maria Maior. Esta “capela subterrânea” foi escolhida para a Missa da Meia-Noite porque simbolizava a gruta em Jerusalém”. Deve-se notar também que a própria hora da meia-noite foi significativa, já que algumas tradições conjecturavam que Cristo nasceu à meia-noite.
Ainda ao tempo, a tradição romana da Missa da Meia-Noite espalhou-se por outras igrejas ocidentais. Embora a Missa da manhã continuasse a ser um elemento essencial da celebração do dia de Natal, a Missa da Meia-Noite veio a significar o início do dia de Natal. De facto, algumas tradições cristãs consideravam-na como o culto de Natal distinto.
Como esta tradição se desenvolveu ainda mais, a igreja acrescentou uma terceira Missa ao amanhecer, estabelecendo assim uma celebração tripartida do Natal: A missa da meia-noite recordava o aparecimento dos anjos, a missa da madrugada comemorava a chegada dos pastores, e a missa do dia aguardava com expectativa o regresso de Cristo.
Adicionalmente, os cristãos desenvolveram uma quarta missa a ser celebrada na véspera de Natal. A missa de véspera de Natal desenvolveu-se a partir da prática das vigílias, que os cristãos comumente celebravam “na noite anterior às festas importantes, tanto as universais, como as de Pentecostes, como as locais, como as festas dos mártires no norte romano da África”. Por volta do século V, a vigília da noite de Natal, a vinte e quatro de dezembro, foi acrescentada às liturgias ocidentais
Com o passar do tempo a celebração do Natal cresceu em popularidade, assim as práticas litúrgicas também cresceram. A prática da Missa de Natal tornou-se um ponto central no calendário eclesiástico, razão pela qual, no século XI, o dia tornou-se conhecido pela sua ênfase litúrgica: Missa de Cristo.
Hoje, a palavra “Natal” é usada tanto pelos protestantes como pelos católicos, independentemente da prática litúrgica e da crença eucarística. No entanto, as origens católicas do termo têm sido um obstáculo para alguns cristãos. Na Inglaterra do século XVII, os Puritanos rejeitaram o Natal como “não bíblico e detestaram-no pelo seu nome ‘papista’, ou seja, ‘Missa de Cristo'”. A associação católica era tão odiosa para este bando de protestantes que eles proibiam o Natal sempre que possuíam o poder político para fazê-lo.
Embora os puritanos reagissem com demasiada dureza, eles sem dúvida entendiam a história do “Natal”. Embora seja uma palavra pequena e aparentemente inócua, é o produto da política, da religião, da controvérsia e do júbilo, forjado ao longo de séculos de crescimento litúrgico.
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