Febre amarela – Brasil

Notícias de surtos de doenças
18 Abril 2019

No Brasil, os aumentos sazonais da febre amarela têm historicamente ocorrido entre Dezembro e Maio. Durante as estações 2016-2017 e 2017-2018, o número de casos de febre amarela foi muito maior do que nos anos anteriores (Figuras 1 & 2). O aumento dos casos foi em parte devido a uma expansão geográfica das áreas afetadas pela febre amarela para incluir áreas anteriormente consideradas livres de risco (Figura 3).

Na atual temporada 2018- 2019 (julho 2018 a março 2019), um total de 75 casos humanos confirmados, incluindo 17 mortes (taxa de casos fatais = 23%), foram relatados no Brasil nos estados de São Paulo (62), Paraná (12) e Santa Catarina (1). Destes casos, 88% (66/75) são homens, a mediana da idade é de 43 anos e 71% (53/75) são trabalhadores rurais.

No estado de São Paulo, os municípios que relataram casos confirmados são: Eldorado (16), Iporanga (15), Barra do Turbo (6), Cajati (5), Cananeia (4), Jacupiranga (4), Pariquera-açu (4), Juquia (1), Registro (1), Serra Negra (1), Sete Barras (1), Ribeira (1), Vargem (1) e para 2 casos, os municípios eram desconhecidos. No estado do Paraná, os municípios com casos confirmados são: Guaraqueçaba (2), Antonina (2), São José dos Pinhais (2), Morretes (1), Andrinópolis (3), Paranaguá (1) e em 1 caso, o município é desconhecido. O estado de Santa Catarina relatou um caso humano fatal confirmado de febre amarela. O caso é de um homem de 36 anos, sem vacinação, cujo município é desconhecido.

Da mesma forma, no mesmo período de relato de julho de 2018 a março de 2019, 33 epizootias confirmadas foram relatadas em cinco estados federais: São Paulo (20), Rio de Janeiro (8), Minas Gerais (1), Mato Grosso (2), e Paraná (2). Nas quatro semanas anteriores a este relatório, epizootias foram confirmadas nos estados de São Paulo e Paraná.

Figure 1. Distribuição dos casos confirmados de febre amarela humana por ano. Brasil, 1980-2018.

2018 A partir da semana Epidemiológica 26Source: Dados publicados pelo Ministério da Saúde do Brasil e reproduzidos pela OPAS/OMS

Figure 2. Distribuição dos casos confirmados de febre amarela humana por semana epidemiológica (EW). Brasil, 2016-2019.

* Curva epidemiológica mostrando duas ondas de transmissão anteriores, uma durante o período sazonal 2016-2017, com 778 casos humanos, incluindo 262 mortes, e outra durante o período sazonal 2017-2018, com 1.376 casos humanos, incluindo 483 mortes.

Fonte: Dados publicados pelo Ministério da Saúde do Brasil e pelas Secretarias de Saúde do Estado de São Paulo e do Paraná e reproduzidos pela OPAS/OMS

Figure 3. Distribuição de epizootias e casos humanos confirmados no Brasil de julho de 2018 a março de 2019.

Resposta de saúde pública

Dada a expansão geográfica dos casos humanos no Brasil e a onda epizoótica nos dois últimos períodos sazonais, o país teve que ajustar suas políticas de imunização para a febre amarela. O número de áreas com vacinação recomendada aumentou de 3.526 municípios em 2010 para 4.469 municípios em 2018.

Em linha com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde, o Brasil adotou um esquema de vacinação em dose única para a febre amarela desde abril de 2017. O uso de doses fracionadas também foi adotado para responder a surtos e ao risco de urbanização da febre amarela, especialmente nas grandes cidades. Esta estratégia foi implementada em resposta ao surto de febre amarela de 2018 em 77 municípios com maior risco de febre amarela nos estados de São Paulo (54 municípios), Rio de Janeiro (15 municípios), e Bahía (8 municípios).

Antes da campanha de vacinação, os estados do Rio de Janeiro e São Paulo já tinham vacinado cerca de 13,2 milhões de pessoas. Durante a campanha, mais 13,3 milhões de pessoas foram vacinadas em São Paulo, 6,5 milhões no Rio de Janeiro e 1,85 milhões na Bahia. Isto resultou numa cobertura vacinal de 53,6%, 55,6% e 55,0% respectivamente e em todos os 77 municípios com maior risco de febre amarela1. Além disso, dados do Ministério da Saúde do Brasil indicam que a cobertura vacinal de pelo menos 95% foi alcançada em 17,8% (71/399) dos municípios do Paraná, 23,7% (118/497) dos municípios do Rio Grande do Sul e 14,9% (44/295) dos municípios de Santa Catarina.

Avaliação de risco da OMS

Espera-se maior transmissão nos próximos meses com base em padrões sazonais. Casos humanos recentes de febre amarela durante o atual ciclo sazonal foram relatados nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, no Sudeste do Brasil.

A avaliação preliminar da cobertura vacinal nos municípios dos estados do Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina sugere uma alta proporção de pessoas que permanecem suscetíveis e a necessidade de intensificar a comunicação para encorajar uma maior absorção da vacina entre os grupos de risco.

A distribuição geográfica dos casos humanos e epizootias dos dois ciclos sazonais atuais e anteriores (Figura 3) sugere movimento do vírus para o sul, o que apresenta maior risco para os estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Além disso, essas áreas possuem ecossistemas favoráveis à transmissão da febre amarela e fazem fronteira com outros países como Argentina, Paraguai e Uruguai.

Durante a temporada de febre amarela 2017-2018, foram relatados casos humanos de febre amarela adquiridos no Brasil entre viajantes, a maioria dos quais chegou de países onde o vetor está ausente (ou ausente durante o inverno).

Até o momento, a transmissão da febre amarela pelo Aedes aegypti não foi documentada. Uma investigação realizada pelo Instituto Evandro Chagas e relatada pelo Ministério da Saúde do Brasil revelou a detecção do vírus da febre amarela nos mosquitos Aedes albopictus capturados em áreas rurais de 2 municípios de Minas Gerais (Ituêta e Alvarenga) em 2017. A importância desta descoberta requer uma investigação mais aprofundada. O último surto documentado de febre amarela urbana no Brasil foi registrado em 1942. O vírus da febre amarela silvestre é transmitido aos macacos por mosquitos residentes na floresta como Haemagogus e Sabethes spp. Os humanos que são expostos a estes mosquitos podem ser infectados se não forem vacinados. Em estudos entomológicos realizados em alguns dos estados afectados durante o surto de 2016-2017, os mosquitos Haemagogus isolados foram considerados positivos para a febre amarela, indicando predominantemente transmissão silvestre.

OMS continua a monitorizar a situação epidemiológica e a rever a avaliação de risco com base nas últimas informações disponíveis. Actualmente, com base na informação disponível, a OMS avalia o risco global como Alto a nível nacional, Moderado a nível regional e Baixo a nível global.

OHO conselho

Em 25 de Janeiro de 2019, a OPAS/OMS alertou2 os Estados-Membros sobre o início do período sazonal para a febre amarela e, portanto, o maior risco de transmissão a humanos não vacinados. Assim, a OPAS/OMS aconselha os Estados Membros com áreas de risco para febre amarela a continuar os esforços para imunizar populações suscetíveis e tomar as medidas necessárias para manter os viajantes informados e vacinados antes de viajar para áreas onde a vacinação contra a febre amarela é recomendada.

OMS recomenda a vacinação de viajantes internacionais acima de 9 meses de idade que vão para o Brasil. As áreas de risco atualizadas para a transmissão da febre amarela e as recomendações relacionadas à vacinação de viajantes internacionais foram atualizadas pela OMS em 3 de maio de 20183; o mapa das áreas de risco revisado e as recomendações de vacinação contra a febre amarela está disponível no site da OMS Viagens Internacionais e Saúde:

  • WHO Viagens Internacionais e Saúde

A febre amarela pode ser facilmente prevenida através da imunização, se a vacina for administrada pelo menos 10 dias antes da viagem. Uma única dose de vacina contra a febre amarela é suficiente para conferir proteção vitalícia contra a infecção da febre amarela: uma dose de reforço da vacina não é necessária e não deve ser exigida dos viajantes internacionais como condição de entrada. A vacina tem sido usada por muitas décadas e é segura e acessível.

A OMS aconselha contra a aplicação de qualquer restrição geral de viagem ou comércio ao Brasil com base nas informações disponíveis para este evento.

Recursos

Informações sobre a situação da febre amarela no Brasil e em outros países das Américas são publicadas regularmente no site da OPAS/OMS e no site do Ministério da Saúde do Brasil:

  • OPAS: Alertas e Atualizações Epidemiológicas
  • Febre Amarela: causas, sintomas, diagnóstico, prevenção e tratamento

Informações sobre a situação da febre amarela nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina estão disponíveis em

  • Febre amarela em São Paulo
  • Febre amarela no Paraná
  • Febre amarela em Santa Catarina

Para mais informações sobre a febre amarela, por favor veja:

  • Ficha informativa da OPAS/OMS sobre febre amarela
  • Tópicos de saúde da febre amarela da OMS
  • Lista de países da OMS com requisitos de vacinação e recomendações para viajantes internacionais
  • Mapeamento de risco de febre amarela da OMS e vacinação recomendada para viajantes
  • Estratégia da OMS para preparação e resposta à epidemia de febre amarela

1 Estes dados são preliminares e sujeitos a alterações.

  • 2Pan American Health Organization / World Health Organization. Atualização Epidemiológica: Febre Amarela. 25 de janeiro de 2019, Washington, D.C: OPAS/OMS; 2019.
  • 3Atualizações sobre as recomendações de vacinação contra a febre amarela para viajantes internacionais relacionadas com a situação atual no Brasil